Inicio hoje um projeto que está há anos no papel – um espaço dedicado para escrever ensaios, uma coletânea de pensamentos que constituem os meus interesses e as minhas curiosidades para além do meu trabalho tradicional.
Digo isso pois não sou novato na internet. Escrevo há tempos sobre tecnologia e programação. Pudera – por muitos anos esse assunto foi basicamente tudo que consumi.
É pouco, porém. Acredito firmemente que todos precisamos de uma formação holística, de modo a evitar cair num tecnicismo barato. Claro, se tudo que ocupa a sua mente é a formação profissional, em que momento do dia você se torna um humano melhor?
Muitos tentam separar-se em múltiplas pessoas. Uma no trabalho, outra com os amigos, uma terceira com a família. Isso não me convence. O modo como você se porta em diferentes círculos sociais não deixa de dizer quem você é, e por mais que você se esforce, é inevitável que essas diferentes personas influenciem-se entre si.
Sendo assim, esses ensaios são minha tentativa de pensar melhor, e, como consequência desse ato, crescer em todas as frentes da minha vida. Tornou-se clichê dizer que, no mundo moderno, somos inundados por informação. É verdade. Mas quantos dizem o que você precisa fazer com elas? Não há Inteligência Artificial que sumarize-as pra você. É necessário que a sua Inteligência Natural realize esse trabalho.
Pois é o ato de refletir que nos permite de fato entender os dados que consumimos. E a escrita é – até onde vai o meu conhecimento – a melhor forma de por à prova nossas meia-verdades. O ato de ordenar o raciocínio para transcrevê-lo de forma coesa e coerente para nós, e por extensão para os outros, é o grande teste do aprendizado. Como dizia Richard Feynmann, se quiser aprender um assunto, experimente ensiná-lo para alguém.
Portanto, inicio aqui um comprometimento público de refletir sobre minhas ideias, esforçando-me ao máximo para distilá-las de forma a despi-las das ideologias, dos pré-conceitos e dos interesses – sabendo que é impossível chegar à pureza total, destino reservado a apenas um.
A internet está cheia de pessoas emitindo opiniões, e tenho consciência de ser só mais um. O que me interessa aqui, no entanto, é forçar-me a entender o mundo ao meu redor. Fazendo esse ato público, espero impingir-me um certo rigor. No mundo da tecnologia e das máquinas, tudo é muito transitório. No mundo da filosofia e dos homens, as ideais são perenes.
Não tenho pretensões de criar uma grande audiência. Sinceramente e de forma assumidamente egoísta, escrevo para mim. Se nesse processo eu ajudá-lo, eis mais um incentivo para continuar. Mas fio-me principalmente nas palavras do Pe. Sertillanges quando explica o porquê do escritor precisar publicar suas obras.
O contato com o público vai obrigá-lo a produzir melhor; os elogios merecidos o encorajarão; as críticas exercerão seu controle.
Antes de terminar, o que esperar nesse espaço? De modo geral, como disse anteriormente, tudo aquilo que ocupa a minha mente, os problemas que ambiciono resolver, e que sem dúvida mudarão de grau e natureza ao longo da minha vida.
Sei que essa resposta diz tudo mas também não diz nada. Sendo assim, serei mais específico. Enquanto escrevo essas linhas, tenho tido um profundo interesse por literatura clássica, filosofia política, e teologia (em particular a moral cristã.)
Na literatura busco aprender com os grandes homens e mulheres do passado. Como diria C. S . Lewis, vejo-os com uma miríade de olhos, mas sou sempre eu a ver. Assim, enriqueço meu repertório, gerando a substância que me permite encarar minha própria história.
Na filosofia política busco entender o mundo ao meu redor, meu papel na sociedade e sua influência sobre mim. É aqui que reflito sobre as questões macro, principalmente de ordem prática, que queiramos ou não, influenciam tanto a nossa vida.
Por fim, o estudo de teologia, da moral cristã, da história da Igreja Católica, seus santos e mártires, me prepara para a etapa seguinte e derradeira, me força a viver sem perder o olhar para o que realmente importa. Reforço que não acredito na dissociação de múltiplas pessoas no trato cotidiano, e é impossível separar a religião, o true north dos meus pensamentos, de qualquer coisa que venha a escrever, em que pese o fato de não ter o carisma de Chesterton nem a sutileza de Tolkien para integrar esses assuntos de forma tão natural.
QUI TIMET DOMINUM NIHIL TREPIDAVIT1
“Quem teme ao Senhor nada temerá". Fica para uma próxima ocasião a minha relação com essa bela frase.