Há 3 anos eu hesitava na frente da porta de uma Igreja. Já havia entrado algumas vezes, claro, sempre para casamentos e missas de sétimo dia. Mas naquele sábado era diferente – eu estava ali de forma voluntária.
Já havia algumas semanas eu começara a aula de catequese, e instado pelo catequista a participar da última missa do Tríduo Pascal (a mais bela de todas, segundo ele) dirigi-me à frente da pequena Igreja de São Domingos em Niterói.
Há anos eu passava na frente daquela Igreja pouco convidativa. Sempre estava fechada, parecia deslocada no meio das paredes pichadas, tão comuns na Praça da Cantareira, lugar de preferência dos gentios do nosso tempo (eu incluso); um convite à bebida, música alta, drogas... enfim, um típico espaço universitário.
Mas naquele sábado de Páscoa eu e minha noiva dirigimo-nos à Igreja, que na ocasião era a mais perto de nossa casa. Como sempre, o local parecia pouco convidativo, escuro e apertado. Por ignorância, não sabia que era assim que deveria ser: na escuridão completa a missa começava, e aos poucos a luz do círio pascal iluminaria aquela congregação.
Chegando ligeiramente atrasado à missa, e desconhecendo ser uma péssima ideia entrar junto à equipe de liturgia, hesitei por um momento na porta da Igreja. Olhei para minha noiva e decidimos não entrar; afinal, não sabia muito bem como me portar nem se iria atrapalhar.
Saindo dali um pouco apressados e constrangidos, decidimos então ir em outra Igreja, um pouco mais afastada. Era a Nossa Senhora das Dores, no Ingá. A missa lá seria em meia hora, tempo suficiente para chegarmos com calma, além de ser consideravelmente maior e mais imponente.
Assim nos dirigimos para a segunda Igreja do dia. Novamente, estava entupida e não havia mais lugares. Na época, recém-operado do joelho, custava-me ficar em pé por muito tempo. Mas fosse por castigo ou para testar minha fé, ali fiquei pelas quase 3 horas de missa, saltitando eventualmente de uma perna para a outra, tentando distribuir o peso de forma menos incômoda, um pouco perdido na liturgia mas aliviado por ter decidido ir.
Antes da missa começar, uma senhora simpática se aproximou e me pediu para retirar o pano roxo que cobria os ícones. Fiquei um pouco desconcertado, aquele ato tão simples naquela hora me pareceu complexo, despropositado. E saberia eu a hora certa? Era só puxar mesmo? Por que pedir logo a mim? Seja como for, fui eu o incumbido dentre a multidão que se acotovelava na Igreja para a missão (provavelmente por minha altura). E talvez tenha sido a forma irônica mas providencial encontrada para me deixar ali, penitente, assistindo aquela longa missa em pé.
No domingo seguinte eu retornava à pequena e discreta Igreja de São Domingos. Ali, sob a abóbada onde ainda hoje se lê QUI TIMET DOMINUM NIHIL TREPIDAVIT, eu passei a frequentar a missa todos os domingos. Em alguns meses eu recebia minha primeira comunhão; e tempo depois, era crismado. Minha noiva, agora esposa, também se crismou naquele lugar, que há muito havia deixado de ser escuro e pouco convidativo, mas havia se transformado numa segunda casa.
Todo sábado de Páscoa me recordo desse dia, e acredito que assim o farei para sempre. Naquele dia, quando Cristo desceu à mansão dos mortos, ele me encontrou. Vacilei frente ao seu primeiro chamado, mas não resisti à sua insistência. Ele ressuscitou, e me trouxe junto consigo de volta à vida.
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