Quantas pessoas não conhecemos (se é que não somos nós também culpados) que juram precisar de um sinal para acreditar em Deus. Nessa aparente boa-vontade, esconde-se a soberba fatal: ou Deus aparece para mim, ou sou incapaz de acreditar n'Ele.
Sempre que me vejo refletindo sobre isso lembro-me de Pedro. Quando recém-convertido, causava-me estranheza o fato de alguém tão próximo e querido por Cristo, aquele que era convocado para testemunhar suas realizações mais surpreendentes, que tinha visto tanta coisa e que jurara amor à mesa da última ceia – como esse homem podia ter abandonado Jesus naquele momento derradeiro, mesmo depois de ter ouvido nem uma nem duas vezes que o Filho do Homem precisaria morrer crucificado para ressuscitar no terceiro dia.
A verdade que nenhum sinal ou milagre será suficiente para aquele que não crê – "bem-aventurados os que não viram e creram", disse o Senhor. Sim, bem-aventurados pois receberam o dom da fé, creram mesmo não tendo passado três anos peregrinando com Jesus, testemunhando seus milagres, vendo antigas profecias materializarem-se na sua frente.
É difícil – e inútil – argumentar com aquele que não deseja crer, ainda que tal pessoa se cubra com um véu de falsa razoabilidade, como se não precisasse de muito mais que um pequeno sinal, uma demonstração de boa-intenção, uma condescendência divina com sua dúvida sincera. Esses fazem parte da geração adúltera de que nos fala Cristo. Adúlteros pois abandonaram o esposo em favor das sugestões do diabo.
Cristo alerta aqueles que fingem necessitar de um sinal, como se vários já não tivessem sido dados. Conheço as suas obras, sei que você não é frio nem quente. Melhor seria que você fosse frio ou quente! (Ap 3, 15). O destino é conhecido: serão vomitados de Sua presença.
Por fim, um novo alerta, dessa vez aos cristãos. No dia do julgamento, tanto os ninivitas quanto a rainha do Sul (ou seja, a rainha de Sabá) levantar-se-ão em condenação aos tíbios. Pois eles arrependeram-se e converteram-se, mesmo em contato com "instrumentos" de conversão inferiores – pois Jesus, o Verbo Encarnado, é mais que Jonas e Salomão. E aqui também ecoam as palavras: "a quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido (Lc 12:48)".
Portanto, aproveitemos a Quaresma não para pedir sinais – eles são inúmeros e já foram dados em abundância. Se somos incapazes de crer, peçamos a Deus que aumente nossa fé. Se resistimos à oração, lembremos que pelos frutos os reconhecerão (Mt 7, 20). Acaso a Igreja teria tido tantos mártires, sobrevivido a perseguições, ofensas e injúrias, se ali não existissem homens e mulheres que viram algo, se não com a luz natural da razão, com a luz sobrenatural da graça?
Perseveremos, e com a graça de Deus erguer-nos-emos juntos àqueles pagãos, ostentando o título de bem-aventurados.